domingo, 4 de setembro de 2011

De Saint-Jean-Pied-de-Port a Santiago de Compostela


Dia 31 e dia de repouso em Santiago

Santiago de Compostela, Segunda-feira dia 29 de Agosto de MMXI
Ontem levantámo-nos mais tarde (às 5h30) e saímos também mais tarde: fomos beber um chocolate quente no café Che, o sítio onde nos sentimos bem acolhidos e alimentados em Arca do Pino.

O caminho fez-se bem e a primeira parte era bem bonita. Só a partir de metade da manhã é que a paisagem começou a ficar mais industrial e urbana. O Monte do Gozo, a última paragem antes de Santiago, não é um local bonito.
Ao chegar a Santiago, antes de ir para a Praça da Catedral, tive de entrar a correr no Seminário Maior pois a "vontade" assim o obrigou.

Encontrámos, na Praça, a Emma e fomos deixar as mochilas novamente ao Seminário para assistir à missa das 12h, já que uma fila enorme esperava a Compostela e não nos pareceu fazer sentido ficar ali à espera. Não gostei da missa: não houve nem bota-fumeiro, nem sítio para os peregrinos, nenhum cântico; tudo frio e impessoal. Depois da missa eu e o Rui fomos à procura do nosso Hostel, que ainda fica um pouco afastado do centro histórico. Fomos então comer e encontrámos duas amigas portuguesas que tinham feito o Caminho Português. Como depois do almoço não havia ninguém à espera da Compostela, lá fomos buscar o nosso certificado. Depois cumprimos as restantes tradições: fomos abraçar a escultura de São Tiago e passámos pelo seu túmulo. O resto do tempo aproveitei-o a saborear Santiago, aquele sítio para onde caminhei, sentado no chão da praça principal com o Antonio, antes de ir beber um copo com a Emma.

Ao jantar fui ter com o grupo que tinha encontrado antes de Léon: eram os anos do Frans e eu consegui chegar a tempo. Ainda vi o ritual da queimada com o Vicente e a Carol, e fomos depois beber outro copo com os do Uruguai, os catalães, o Joan, o Antonio, o Pablo e a Marina.

Hoje de manhã o Rui foi embora. Eu fico a apreciar a minha meta até quarta de manhã, dia em que os pais me vêem buscar. Passei tanto tempo a "andar" que agora só quero "estar". Sem planos, só descansar e digerir. Hoje almocei no Manolo. Já estive com a Rebecca que chegou ontem à noite. Amanhã vou almoçar com ela e a Emma ao Gato Negro e mudo para o Seminário Maior, para estar no mesmo sítio da Judith e da Emma. E teremos o nosso jantar de reencontro. Hoje à noite vou sair com quem cá está: a Marina e o Pablo, mais os do Uruguai e os catalães.

Ultreia
Et suseia

 em frente da catedral de Santiago: Antonio, Rui, Emma, eu, Vicente e Carol

 despedida do Andrea
com a Emma e a Rebecca (censurada pela máquina descartável)

Dia 30

Pedrouzo ou Arca do Pino, Sábado dia 27 de Agosto de MMXI
Hoje, chegámos muito cedo ao albergue: teremos lugar no municipal. A manhã foi a mais fria até agora. Uma nebelina pairava nos campos e a humidade via-se com a luz das lanternas. A etapa foi de 20km e só falta uma - parece que estou em count-down.
Confirmámos a reserva num hostel em Santiago para termos a certeza de termos cama no nosso destino. Vamos ficar com a Marina e o Pablo. O Javi ainda segue hoje até o Monte do Gozo.

Dia 29

Arzúa,  Sexta-feira dia 26 de Agosto de MMXI
Chuviscos pela manhã e frio. Mas o sol voltou a brilhar e veio a promessa de roupa seca. Durante o caminho parámos brevemente 3 vezes. A etapa foi um pouco mais longa mas, ao chegar a Arzúa, o albergue municipal já tinha 44 mochilas à porta (o albergue tem 46 camas). As primeiras eram de um grupo de portugueses que tinha partido de uma povoação próxima. Como fomos os primeiros a sair de Palas del Rei depreendemos que os peregrinos naquelas bandas andam a fazer etapas mais curtas.

Acabámos por ficar num albergue privado que tem um páteo traseiro, tipo terraço. Arzúa parece feio e voltaram os chuviscos. A partir de agora, só etapas de 20km. Faltam apenas e dias!

Rui, Vicente e Carol em cima
Javi em baixo

Dia 28

Palas de Rei, Quinta-feira dia 25 de Agosto de MMXI
Todos os dias nos temos levantado às 4h30. Hoje conseguimos sair antes dos escoteiros ruidosos que ontem à noite não se calavam. Fazer uma parte do caminho pela noite é bom para avançar e parece custar menos, mas essa parte do caminho vai ficar na memória como túneis de escuridão e frio, aclarados por uma luz azulada.
Chegámos a Palas às 11h30 e conseguimos ser dos primeiros no albergue municipal. Mas o dia voltou a estar cinzento e húmido... Vontade de chegar!

dois voluntários catalães num "Hospital de Peregrinos" a meio do caminho

Dia 27

Portomarín, Quarta-feira dia 24 de Agosto de MMXI
A Marta não pode andar... tem uma tendinite que só se pode agravar se ela continuar a forçar. Amanhã vai até Santiago de autocarro. Ela está inconsolável e eu fico particularmente triste por ela.

O caminho de hoje foi lindo e o sol voltou a espreitar timidamente. Verde, colinas, vacas... Passámos o rio Minho e vêem-se muito mais pessoas a caminhar, com mochilas pequenas - os chamados "turigrinos" na gíria do Caminho.
Na igreja de Portomarín houve um pequeno recital pouco convencional: o cantor, flautista e guitarrista (3 em 1) chegou atrasado, usando calças de ganga, e começou imediatamente a tocar. A flauta transversal nem soou mal, mas quando começou a cantar acompanhado pela guitarra... Uma espécie de mantra desafinado numa suposta nota só. Ui!

 Marta e Rui em Portomarín
faz pensar na Sé de Lisboa...

Dia 26

Sarria, Terça-feira dia 23 de Agosto de MMXI
O dia esteve húmido e com muito nevoeiro. Passámos por Samos ainda era noite. Aí tomámos o pequeno-almoço e vislumbrámos o mosteiro através da bruma. Custa andar com tanta humidade nos ossos.
Sarria não é muito bonito. Optámos por ficar num albergue privado para podermos usar a cozinha. Encontrei a Emma ao almoço e vamos tomar um copo (orujo) com ela depois do jantar. Eu vou jantar empada galega no albergue. Continuamos os seis: três portugueses e três espanhóis.

Dia 25

Lusío, Segunda-feira dia 22 de Agosto de MMXI
Hoje a Marta foi de autocarro até Triacastela. Eu e o Rui levantámo-nos às 4h45 e o caminho não custou tanto quanto esperávamos. Triacastela era uma pequena povoação com casas soltas. Comprámos alguma comida que esperávamos comer amanhã, mas já marchou tudo. Seguimos até Lusío, já com a Marta, e encontrámos um albergue novo em folha e nada mais (nem loja, nem café). Apenas uma máquina de bebidas à porta da casa de uma senhora que andava a pastorar vacas e que nos informou que podíamos ir comer a casa dela - 10€ o menú. O Vicente, a Carol e o Javi não gostaram da ideia de dependência e de falta de escolha... nós, os portugueses, gostámos do albergue e adorámos o jantar caseiro, tal como o António de Sevilha e o Joan de Barcelona.

Está a chover, e começa a ser difícil secar roupa nos albergues...

Dia 24

O Cebreiro, Domingo 21 de Agosto de MMXI
Hoje chegámos à Galiza. Levantámo-nos às 4h30, e ainda bem! (houve muita gente que já não encontrou lugar no albergue do Cebreiro e das duas aldeias seguintes) Não me custou caminhar, mas a Marta teve muitas dores. Viemos com o Javi, um rapaz de cinco estrelas com dezoito aninhos. A paisagem é deslumbrante - ora parece que estamos em Sintra, ora na "Música no Coração" ou a conviver com a Heidi.

O Cebreiro é uma terra bem simpática, a primeira aldeia da Galiza: casas em pedra, música celta, igreja franciscana onde se ouvia um antigo CD com música de Taizé. Ouve-se galego nos cafés, come-se bem, o pão  melhorou significativamente. Fomos à missa às 19h e a homília foi toda dedicada aos peregrinos. Amanhã vamos madrugar de novo: há muita gente a começar hoje e encontrar alojamento começou a ser uma tarefa mais complicada. Jantámos os seis: o Javi, a Carol, o Vicente, Marta, o Rui e eu.
 às portas da Galiza
almoço no Cebreiro com Javi, Vicente e Carol

Dia 23

Pereje, Sábado dia 20 de Agosto de MMXI
As pernas ainda doem do dia de ontem - o caminho subia e descia. Mas passámos por aldeias bonitas. Decidimos não ficar em Villafranca del Bierzo para que a etapa de amanhã não seja tão dura. Apesar da decisão, parámos em frente da igreja para terminarmos a comida que nos restava nas mochilas - desta forma teríamos de carregar com menos peso. Encontrámos o Alfredo com a namorada, que ficaram num pequeno hotel desta aldeia.

Desde Villafranca del Bierzo até Pereje o caminho faz-se junto a uma estrada que serpenteia por baixo da auto-estrada. Acabámos por ficar em Pereje pois tanto a Marta como o Rui acharam que já não tinham forças para continuar até Trabadelo. Encontrámos o Vicente, a Carol e o Javi no único bar da aldeia e a entrada no albergue foi tipo self-service: escolhemos as camas, tomámos o duche e só mais tarde chegou o Hospitaleiro. O albergue é bonito, com traves em madeira e a única coisa que existe na povoação é o mesmo bar, onde iremos jantar.

Dias 21 e 22

Ponferrada, Sexta-feira dia 19 de Agosto de MMXI
Já telefonei ao pai para lhe dar os parabéns...
Ontem fizemos caminho até Foncebadón. Mas antes de lá chegarmos, logo pela manhã, passámos pelo sítio mais acolhedor de todo o caminho. Como não tínhamos tomado o pequeno-almoço, parámos numa povoação (que não me lembro se era Santa Catalina de Somoza ou Murias de Rechivaldo) e procurámos um bar aberto. Vimos luz atrás de uma porta envidraçada e entrámos num pequeno espaço acolhedor, com comida fresca e caseira, delícias preparadas com um cuidado e uma dedicação visível.Chocolate quente com leite de soja, tomate da horta, e o Pavarotti a cantar ópera e uma mulher que era como uma mãe para os peregrinos: filha de italiano e argentino, tentava falar na língua dos viajantes e abraçou-nos comovida à despedida. Uma memória de um acolhimento e de um coração enorme que nos aqueceu durante a caminhada.
O caminho era bonito, apesar das raízes em que tropeçámos e das pedras no caminho e, claro, do cansaço. Chegámos cedo a Foncebadón e esperámos que o albergue paroquial abrisse. Valeu a pena. O jantar foi preparado por todos - eu ocupei-me do arroz, os espanhóis da salada e os italianos do molho e da pasta. Conheci muito boa gente. Eu e o Rui partilhámos a máquina de lavar roupa com o Vicente e a Carol. Lá também estava o Lucca e um outro Lucca também italiano. Conhecemos o Javi e o Ramón. Que bom ambiente neste albergue, em que o Hospitaleiro fez compras para termos tudo o que fosse necessário para o jantar.

O caminho de hoje era lindo, por entre os montes. Passámos pela famosa Cruz de Ferro onde deixámos uma pedra no amontoado de pedras que a envolve. Ainda era noite. O resto do caminho foi todo passado a descer, com pedras soltas e carreiros íngremes e resvalantes. A perna direita ressentiu-se. Passámos por aldeias muito bonitas - casas de pedra, varandas e balaustradas de madeira, flores penduradas. Numa delas havia um rio onde me molhei até aos calções - e foi daqui que falei com o pai.
Agora estamos em Ponferrada, cidade feia, onde fomos buscar a Marta à estação de combóios. Ficámos no único albergue da cidade (gigantesco e quente) e viemos comer um gelado que nos servirá de jantar.

 a caminho de Foncebadón

Marta com o seu cajado novo em folha em Ponferrada

Dia 20

Astorga, Quarta-feira dia 17 de Agosto de MMXI
Ontem tivemos um jantar com o Alfredo de Madrid. Tanto ele como o Rui são de Matemática e ligados ao ensino... a conversa variou de números a equações, passando por educação e política.
Hoje saímos do albergue de que tanto gostámos e fizemos calmamente o caminho até chegarmos a uma montanha de onde se avistava Astorga. O trajecto passava pelo campo e a vista era muito bonita. A paisagem continua a ser mais verde do que a dos dias anteriores: parece que a típica Meseta está a ficar para trás.

Astorga é uma cidade pequena com um centro histórico bem preservado e encantador. O palácio episcopal é uma obra do arquitecto Gaudì e visitámo-lo. A catedral não está aberta, apenas para quem paga a entrada no museu... não nos apeteceu fazê-lo. O Albergue San Javier encontra-se na rua em frente da catedral. Uma casa velha e muito bonita e ficámos a dormir no sótão - que é muito quente. No páteo há um lava pés e sal grosso para relaxar os pés.
Visitámos a cidade, comprei um chocolate (que não provei, pois esqueci-me dele no albergue), escrevi um postal para chegar no dia de anos do pai e bebemos duas cervejas na praça da Câmara Municipal, que tem um relógio onde duas figuras (uma masculina a outra feminina) batem as horas. Jantámos no Hotel Gaudì, com um desconto de peregrinos alojados naquele albergue. Amanhã vamos acordar antes das galinhas.

 o meu novo companheiro de viagem
 Astorga
 palácio episcopal
praça maior

sábado, 3 de setembro de 2011

Dia 19

Hospital de Órbigo, Terça-feira dia 16 de Agosto de MMXI
Saí do albergue e encontrei-me com o Rui às 6h em plena cidade, a dois passos do seu albergue. Fomos caminhando e encontrámos o Martino pelo caminho. A nossa ideia era ficarmos em San Martin del Camino, mas acabámos por seguir até aqui, o que fez quase 35km para o primeiro dia do Rui - espero que ele se aguente!

albergue em Hospital de Órbigo

Dia 18 e dia de pausa

Léon, Segunda-feira dia 15 de Agosto de MMXI
Ontem vim até Léon com o Alfredo. Adorei falar com ele e tê-lo por companheiro neste dia. A Dina também nos acompanhou durante boa parte do caminho, e também vimos o Frans e a Agnès. Foi uma boa caminhada, feia mas agradável. Parámos num café com música clássica (Strauss e Beethoven) e chegámos cedo a Léon. Fui tomar um duche ao albergue das monjas Beneditinas, fui à missa na catedral e ao Museu de Arte Contemporânea onde, qual não foi a minha surpresa, encontrei o Carlos e o Dani (e respectivas mulheres) e o Jesús Miguel, amigos da comunidade de Bilbau. Mais tarde chegou o Miguel A., o Cernin, a Gloria e o Dani (que está a viver com eles em comunidade). Fizemos um piquenique no relvado em frente (quase parecia uma performance) e visitámos um pouco da cidade. Ainda encontrámos o Rui - que estava a chegar a León - antes de sairmos para Bilbau.

O Antonio estava em casa à nossa espera com o jantar preparado e hoje de manhã fomos ver o apartamento onde haverá uma residência de estudantes para eu dar algumas ideias de decoração. O Cernin e o Miguel A. vieram trazer-me a León e já só encontrei lugar no albergue municipal, bem longe do centro histórico, onde me esperou uma noite de insónia pelo calor excessivo e a luz de estádio que me estava apontada à cara.

León

Dia 17

Mansilla de las Mulas, Sábado dia 13 de Agosto de MMXI
Hoje foram menos de 30km. Pela fresca deixei o albergue. Não vi coelhos nesta madrugada (ontem tinha visto), mas entre as ervas sentia-se o resmalhar de algum bicharoco mais tímido. Não gostei tanto do percurso de hoje, nem da forma como o fiz. Senti-me com pressa. E senti algumas pessoas numa espécie de corrida de albergue em albergue... Parei em todos os cafés por onde passei e voltei a ver uma Espanha profunda, paredes de barro, torres quadradas com ninhos de cegonha, de cor avermelhada. Estou sozinho e ansioso pelo dia de amanhã. Fiquei num albergue municipal simpático, com um páteo aberto central, cheio de luz e de flores.

Acabei por ter um jantar óptimo com boa companhia: o Alfredo de Madrid, o Andrea da Itália (que começou em bicicleta e vai terminar a pé), a Dina e o Frans (da Holanda, com quase 65 anos e chefe da Dina) e a Agnès. Combinámos encontro em Santiago nos anos do Frans. Não sei se já lá estarei...

O Rui chega amanhã e eu serei raptado pelo Miguel A. durante um dia (será a minha pausa).

 paragem para pequeno-almoço

Dia 16

Bercianos del Real Camino, Sexta-feira dia 12 de Agosto de MMXI
Hoje comecei cedo, apesar de me ter esforçado por dormir até mais tarde (5h45). Fiz calmamente o caminho; parei em Ledigos e notei que em muitas aldeias há uma construção parecida com a das casas no Bangladesh, penso que se chama "taipa", e é terra misturada com palha... curioso!

Encontrei o Giacomo de Palermo num café em San Nicolás del Real Camino. Já o tinha encontrado várias vezes, a primeira das quais em Saint Jean-Pied-de-Port. Ele falou-me de voluntariado e de projectos para desenvolvimento e cooperação.

Cheguei cedo a Sahagún e instalei-me no albergue municipal Cluny. Tomei duche, fiz compras e descansei mas como o albergue era enorme, ruidoso e um pouco impessoal, acabei por decidor continuar até Bercianos del Real Camino. Caminhei no final da tarde e cheguei às 19h ao albergue que mais gostei até agora. Um grupo de jovens ligados aos Agostinhos dinamiza-o. Há uma missa - à qual não cheguei a tempo - e jantar partilhado. Fomos ver o pôr-do-sol e houve uma pequena oração, bênção e entrega de um símbolo (uma concha de cartolina com uma frase de santo Agostinho). É engraçado como as vozes tão desafinadas, assim como a guitarra, em nada contribuiram para destruir a força do momento.

Ao jantar estive sentado ao lado da Dina, uma indonésia que também trabalha em cooperação. Será coincidência?

Neste dia acabei por chegar ao "grupo" que saiu um dia mais cedo de Saint Jean-Pied-de-Port.

Dia 15

Calzadilla de la Cueza, Quinta-feira dia 11 de Agosto de MMXI
Hoje comecei cedo com o Louis, mas os tornozelos dele não andam bem, o que fez com que a velocidade não tenha sido muita. Cheguei a Carrión de los Condes ainda não era meio-dia, o que me fez prosseguir sozinho para uma fase temida do caminho de Santiago. É conhecida como Via Trajana e é um caminho batido pelo sol em que durante 17km não se vê água, sombra ou casa. Nada de nada. O dia aqueceu demasiado e ontem dei o resto do meu protector solar ao Juan, pensando que já estava no auge do meu bronze. Senti falta dele e as pernas arderam. Pelo caminho vi uma rega automática a uns girassóis e corri a ver se conseguia refrescar-me: a temperatura era tão alta que passados dois minutos não se via vestígio de água.

Finalmente cheguei a Calzadilla de la Cueza, uma aldeia com um albergue, um bar e nada mais. Descansei bastante e dei um mergulho na pequena piscina (!) de água fria, que me soube pela vida. Amanhã a etapa é bem mais curta. No mesmo albergue está a Carmen, que conheci ontem em Frómista.

Dia 14

Frómista, Quarta-feira dia 10 de Agosto de MMXI
Hoje não me levantei tão cedo: levantei-me às 6h (UAU, que tarde!), tomei um pequeno-almoço calmo e fiz o caminho todo sozinho. Pude finalmente encontrar-me comigo e com Deus. Deu para pensar, falar alto, cantar...

A subida logo a seguir a Castrojeriz tem uma inclinação absurda, mas o sol estava a nascer e isso deu-me alento para a fazer. As sombras davam lugar a manchas de cor e uma franja de nuvens encaixadas na moldura das montanhas pintava-se de tons róseos. Fiz pausas curtas e fui comendo e bebendo.
Cheguei cedo a Frómista e fiz as compras antes das lojas fecharem para o almoço (14h), fui aos correios enviar a primeira máquina descartável e um postal para o Hugo Cunha (que me enviou um pedido, não sei se para algum trabalho!). O dia está a começar a aquecer mas o caminho, fi-lo pela fresca.

Chegou o Louis, o Lucca, a Stella e a Sara. O Juan também cá está. Passei a tarde a falar com ele e a visitar a aldeia. Aqui na Meseta os albergues têm tido sempre lugar: dá a impressão de muita gente saltar estas etapas.

uma das mais belas alvoradas no cume logo a seguir a Castrojeriz
Frómista, cheia de construções medievais e gótico construído sobre o românico